Karol Wojtila, desde os tempos de padre, na Polônia dos anos 40, sempre teve uma especial afinidade com os jovens. As Jornadas Mundiais da Juventude, foram, talvez, os eventos melhor sucedidos de seu glorioso pontificado. Numa Europa extremamente secular e anti-clerical, cética, comodista, que depois do fracasso das utopias temporais (nazismo e comunismo), a geração pós muro de Berlim fez a aposta na utopia do cientificismo, ancorada no relativismo moral e no permissivismo sexual. Diante do contexto de indiferentismo religioso, tão divulgado pelos institutos de pesquisa e pela grande mídia, os observadores do fenômeno Wojtila no Vaticano ficavam estupefatos quando viam milhões de jovens nas ruas das capitais européias (foram dois milhões em Roma, no Grande Jubileu, em 2000). De onde vinha o magnetismo pessoal de Wojtila que causava uma tal admiração entre os jovens? Era a pergunta que se fazia.
Fui feliz por ter tido a graça de ser um desses milhões de jovens tocados pela força do papa polonês. Ele foi a principal liderança da minha geração, a geração pós-Concílio Vaticano II; pois nasci em 1965, bem no ano em que se encerrou o histórico Concílio Ecumênico, corajosamente empreendido por vontade do “Papa bom”, João XXIII. Filho da geração dos 60, nos vimos esmagados pelo vácuo de liderança (em todos os aspectos, nas artes, na cultura, na literatura, filosofia e até mesmo na política). Uma liderança só se afirma como tal quando movida por fortes e autênticas convicções, e quando estas convicções são sustentadas por exemplos concretos da experiência profunda de quem realmente crê, espera e trabalha pelo melhor. Em termos internacionais e espirituais, Gandhi foi a última grande liderança mundial antes de Wojtila. Depois dele, só mesmo João Paulo II emergiu como a figura máxima do seu tempo, uma estrela de grandeza excepcional a fulgurar em nossos dias de valores horizontais e liliputianos. Hoje, em sua beatificação, recordo-me das palavras de Santa Teresinha: “Quero no céu, continuar fazendo o bem na terra!” Daí a explicação da presença de Wojtila na Igreja, “sinto que ele está presente”, declarou o cardeal primaz da Polônia.
Em 1993, por intermédio de Dom Geraldo Majella Agnelo, conheci o papa João Paulo II. Ninguém que o conheceu pessoalmente fica a mesma pessoa. O impacto daquele encontro até hoje repercute em minha vida, porque sei que conheci naquele dia de Natal, um grande líder. A minha vida mudou a partir daquele encontro, e até hoje produz bons frutos. Foi um encontro decisivo em minha vida. E não foi apenas por ter recebido a comunhão do Santo Padre, mas especialmente por poder dizer hoje, com convicção que comungo com o pensamento do Papa, com sua linha doutrinária, com aquilo que defendeu como valor de vida, e que é o que a Igreja vem anunciando em sua história bimilenar.
A força do Papa evidenciou-se justamente na defesa dos pontos mais complexos na vida da Igreja atual, que vai na contra-mão da opinião pública, e que o Papa não se intimidou em defender, por maior que fosse a pressão da opinião pública. Isso porque não é o Ibope quem deve determinar as diretrizes da mais antiga e mais sólida de todas as instituições humanas: a Igreja Católica Apostólica Romana, cujos Papas, como Leão Magno e Gregório Magno, tornaram-se gigantes da fé, justamente em momentos de crise aguda, quando todos julgaram que a Igreja não teria mais força para ficar de pé.
Os grandes líderes deixam um legado por um tempo duradouro. João Paulo II comprovou que a Igreja, ainda hoje e sempre, tem o que dizer, que o cristianismo é perspectiva histórica perene, e a despeito de tantas dúvidas deste nosso tempo impregnado pelo relativismo cultural, o fenômeno Wojtila deu para nós, jovens desse início do terceiro milênio, a convicção de que Jesus Cristo é “ontem, hoje e sempre”.
São Paulo, 01 de maio de 2011.
Publicado originalmente nos blogs de Dom Luiz Gonzaga Bergonzini e de Wagner Moura.