Apresentamos a Nota em relação ao Momento Eleitoral que ontem publicou a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. Dado o contexto em que ela vem à luz e o tom que os bispos da Presidência da entidade julgaram conveniente lhe imprimir, é necessário que esta Nota seja lida com muita atenção e objetividade.
Ontem mesmo, instantes depois de ela ter sido publicada, infelizmente já era usada com finalidades eleitoreiras, e, portanto, desconsiderava-se o que a própria Nota lamenta: "que o nome da CNBB - e da própria Igreja Católica – tenha sido usado indevidamente ao longo da campanha, sendo objeto de manipulação".
A Nota, como pode ser lida na íntegra aqui, congratula-se com os brasileiros pelo exercício da cidadania no primeiro turno, pelos frutos decorrentes da Lei da Ficha Limpa, lamenta que o nome da CNBB tenha sido usado indevidamente ao longo da campanha, reafirma que em nome da entidade falam só três instâncias, sublinha o direito e dever dos bispos de orientar seus fiéis, sinaliza a natureza apartidária da instituição, e pontua os critérios irrenunciáveis a se considerar na hora do voto.
Neste momento em que os candidatos se disfarçam, negam fatos objetivos, mudam posições e discursos de acordo com a conveniência, pautados só pelo interesse particular, e usam de estratégias eleitoreiras para manipular à população, é necessário, mais do que nunca, escutar a voz dos nossos Pastores, alem do mais porque há uma endêmica falta de formação moral e doutrinal em muitos fiéis leigos.
Congratulamos os Bispos e clérigos que, vendo a grande e urgente necessidade de orientar a consciência cristã dos fiéis, e levados pela legítima preocupação pelo Povo de Deus, exercem de maneira admirável a função profética de Cristo, ensinando-nos e exortando-nos mediante notas, cartas, homilias e declarações.
Congratulamos também todos os fiéis leigos e associações religiosas e civis que tem realizado grande papel na apuração da verdade dos fatos que envolvem os candidatos no que diz respeito ao direito à vida, à família, à liberdade religiosa, de consciência e de expressão, e à dignidade da pessoa humana. Esta é uma contribuição valiosa à nação neste período eleitoral e, acima de tudo, para o voto livre e consciente.
É necessário, ainda, advertir sobre uma associação inadequada da Nota da CNBB a um suposto mal uso do nome da entidade pelo Regional Sul 1.
A presidência do Regional Sul 1, no texto em que recomenda a ampla difusão do "Apelo a todos os brasileiros e brasileiras", jamais se auto-atribuiu a pretensão de falar em nome da CNBB como um todo; isso pode ser lido na própria Nota da Regional. Eles simplesmente fizeram uso de sua autoridade e autonomia para relatar fatos objetivos e orientar os cristãos a um voto consciente e coerente.
Endossamos o repúdio ao uso indevido do nome da Igreja, das instituições da Igreja e da religião a fim de ludibriarem os fiéis católicos. Não podemos nos deixar enganar por declarações fáceis no período eleitoral. É necessário apurarmos as posições e atuações dos nossos candidatos e seus partidos durante sua trajetória política.
Por fim, alentamos a todos os Bispos no Brasil, sobretudo neste momento, a se expressarem livremente para continuar orientando seus fiéis quanto ao exercício do voto em coerência aos princípios cristãos, como nos recorda, precisamente, a Presidência da CNBB na Nota lançada ontem no site da instituição. Queridos Pastores, precisamos da sua Voz.
Nota sobre o Momento Eleitoral
A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, por meio de sua Presidência, congratula-se com o Povo Brasileiro pelo exercício da cidadania na realização do primeiro turno das eleições gerais, quando foram eleitos os representantes para o Poder Legislativo e definidos os Governadores de diversas unidades da Federação, bem como o nome daqueles que serão submetidos a novo escrutínio em 2º turno, para a Presidência da República e alguns governos estaduais e distrital.
A CNBB congratula-se também pelos frutos benéficos decorrentes da aprovação da Lei da Ficha Limpa, que está oferecendo um novo paradigma para o processo eleitoral, mesmo se ainda tantos obstáculos a essa Lei tenham de ser superados.
Entretanto, lamentamos profundamente que o nome da CNBB - e da própria Igreja Católica – tenha sido usado indevidamente ao longo da campanha, sendo objeto de manipulação. Certamente, é direito – e, mesmo, dever – de cada Bispo, em sua Diocese, orientar seus próprios diocesanos, sobretudo em assuntos que dizem respeito à fé e à moral cristã. A CNBB é um organismo a serviço da comunhão e do diálogo entre os Bispos, de planejamento orgânico da pastoral da Igreja no Brasil, e busca colaborar na edificação de uma sociedade justa, fraterna e solidária.
Neste sentido, queremos reafirmar os termos da Nota de 16.09.2010, na qual esclarecemos que “falam em nome da CNBB somente a Assembléia Geral, o Conselho Permanente e a Presidência”. Recordamos novamente que, da parte da CNBB, permanece como orientação, neste momento de expressão do exercício da cidadania em nosso País, a Declaração sobre o Momento Político Nacional, aprovada este ano em sua 48ª Assembléia Geral.
Reafirmamos, ainda, que a CNBB não indica nenhum candidato, e recordamos que a escolha é um ato livre e consciente de cada cidadão. Diante de tão grande responsabilidade, exortamos os fiéis católicos a terem presentes critérios éticos, entre os quais se incluem especialmente o respeito incondicional à vida, à família, à liberdade religiosa e à dignidade humana.
Confiando na intercessão de Nossa Senhora Aparecida, invocamos as bênçãos de Deus para todo o Povo Brasileiro.
Brasília, 08 de outubro de 2010
Dom Geraldo Lyrio Rocha
Arcebispo de Mariana
Presidente da CNBB
Dom Luiz Soares Vieira
Arcebispo de Manaus
Vice-Presidente da CNBB
Dom Dimas Lara Barbosa
Bispo Auxiliar do Rio de Janeiro
Secretário Geral da CNBB