Em janeiro deste ano, um jornal de grande circulação nos pediu um texto com a posição contra o aborto para ser confrontado com outro texto com posição favorável, a ser escrito por outra pessoa. O texto tinha prazo para ser enviado. No prazo, enviamos o texto Aborto: defender a vida humana é ser progressista, mas até hoje ele não foi publicado. Também não recebemos nenhuma explicação.
Recentemente, as televisões começaram u a mostrar a precariedade da saúde no Brasil. Repórteres visitando hospitais mostram mulheres grávidas de estados do nordeste aguardando atendimento em macas e cadeiras nos corredores, mostram mulheres circulando por vários hospitais sem conseguir atendimento e até a intervenção do Ministério Público para impedir a internação em hospital infectado por bactérias mortíferas que era um risco para a saúde de quem lá fosse internada.
No texto que escrevemos para o jornal, copiamos trecho de relatório do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, Nascimentos no Brasil: o que dizem as informações?, que indica a causa principal dos abortos: a falta de assistência médica para as mulheres.
“O acesso à assistência pré-natal é considerado uma condição sine qua non que a gestação transcorra sem problemas tanto para a mãe quanto para o filho, ou, pelo menos, que haja um acompanhamento médico para as situações de risco. Alguns estudos mostram que a maioria das mortes por causas maternas são evitáveis, se ações que objetivam a qualidade da assistência perinatal e o acesso aos serviços de saúde da gestante forem tomadas [...]
“A avaliação por Unidades da Federação para o ano de 2006 mostra as desigualdades regionais, no que se refere à assistência pré-natal. Enquanto em São Paulo e no Paraná o total de nascidos vivos cujas mães realizaram sete ou mais consultas foi superior a 70%, no Amapá essa proporção não atingiu 25%.
"Vale destacar que, em todas as Unidades da Federação pertencentes às Regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste, mais de 50% dos nascidos vivos eram de mães que efetuaram sete ou mais consultas pré-natal."
Mais recentemente, escrevemos sobre o projeto Rede Cegonha e a precariedade do serviço de saúde no Brasil mostrando o caso de uma grávida que ficou com o bebê morto no útero por oito dias e outra que recebeu o feto num vidro, em plena capital federal, Brasília.
A imprensa nacional e a internacional estão mostrando que a situação precária da saúde pública, no Brasil e no mundo, provoca a morte de milhares de mulheres e milhões de bebês. Os abortos tem como razão principal a falta de assistência médica e hospitalar.
O grupo de políticos que dirige o país há mais de 8 anos, em vez de propor a matança de crianças através do aborto, poderia se preocupar mais em oferecer um atendimento médico e hospitalar de "primeiro mundo" para todas as gestantes do Brasil.
O essencial é dar assistência médica, psicológica e material para todas as gestantes, desde a fecundação do óvulo, com pelo menos sete consultas, para manter as vidas das crianças e das mulheres.
Esperamos que os propósitos do programa "Rede Cegonha" sejam, exclusivamente, de dar assistência médica e amparo material, com os diversos programas assistenciais existentes, para proporcionar às mulheres gestações dignas, seguras e felizes.
Neste mês de Maria, que disse o sim que deu a vida a Jesus Cristo, nosso Salvador, precisamos reconhecer que a geração da vida é uma dádiva de Deus concedida às mulheres.
Dom Luiz Gonzaga Bergonzini é Bispo da Diocese de Guarulhos, em São Paulo.
Guarulhos, 10 de maio de 2010.