A dor vem da atitude que alguns dos nossos Bispos e organismos eclesiais estão assumindo em face aos acontecimentos destes últimos dias.
Como se sabe, assim que a confirmação de que haveria segundo turno foi divulgada, o comando da campanha da candidata do Partido dos Trabalhadores, Dilma Rousseff, avaliou que um dos fatores que a impediram de ganhar no primeiro turno foi o tema do aborto, que lhes tirou um significativo número de votos entre católicos e evangélicos.
Segundo a Folha de São Paulo, o Partido dos Trabalhadores (PT) modificará o programa de governo e incluirá os direitos à liberdade religiosa e o direito à vida. Uma mudança oportunista.
Como o Bispo Auxiliar de Salvador João Carlos Petrini disse ao jornal Valor, "É muito complicado, muito difícil acreditar na mudança de uma mentalidade de um grupo político que foi construída e expressa em documentos oficiais. Isto exigiria, talvez, ter como colaboradores outras pessoas, que pensassem diferente. E possivelmente haverá dúvidas se esta mudança irá sobreviver depois de 1º de janeiro".
Lamentavelmente, o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, por meio de seu chefe de gabinete Gilberto Carvalho, mandou um “recado” para a CNBB, pedindo que esta parasse os Bispos que tem se colocando abertamente contra as posições que oficialmente o partido tem apoiado e contra as políticas que seu governo tem assumido, e que ferem o direito à vida desde sua concepção e a constituição natural da família. Isto segundo matéria de César Felicio e Raymundo Costa, do jornal Valor.
"O Palácio do Planalto ameaça rediscutir o acordo se padres continuarem fazendo campanha, nas missas, contra a candidata Dilma Rousseff (PT) devido a sua suposta posição favorável à descriminalização do aborto. O recado do governo chegou à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) por meio do chefe de gabinete da Presidência da República, Gilberto Carvalho", diz o texto publicado hoje.
Carvalho, ex-seminarista, tem uma longa trajetória de militância dentro da Igreja vinculada a Comunidades Eclesiais de Base que abraçaram uma vertente ideologizada da Teologia da Libertação e da Pastoral Operária. E trabalha, segundo O Estado de São Paulo, desde julho passado, em prol de uma aproximação com a hierquía. Como não teve sucesso no primeiro turno, agora, parte-se para uma atitude mais dura.
Mas, poderia o Presidente da República pressionar os Bispos para calá-los, ameaçando “rever” unilateralmente, ou seja, não reconhecer um acordo diplomático devidamente aprovado pelos correspondentes órgãos do Estado?
Num país democrático, não.
Não se pode esperar isso de um Presidente que respeita as instituições.
Existe ou não a liberdade de expressão no Brasil?
Porque querer esmagar o direito natural de nossos Bispos a expressar-se e orientar os fiéis, direito este que, além do mais, está garantido positivamente no artigo 5º da Constituição?
Nenhum de nossos Bispos em funções obrigou ou fez coerção nenhuma para que seus fiéis votassem em algum candidato determinado. Simplesmente apresentaram a doutrina católica e fatos comprováveis por textos oficiais e atos concretos legislativos e de governo que mostram agressões à vida e à família.
Mas o que mais dor causa é ver os posicionamentos de alguns Bispos, etiquetando seus irmãos no Episcopado como “conservadores”, “radicais” ou “fundamentalistas”, “manipulados por grupos conservadores".
Dom Demétrio Valentini, que já tinha desqualificado arbitrariamente a direção do Regional Sul 1 da CNBB pela divulgação do "Apelo aos brasileiros e às brasileiras", hoje divulgou um artigo criticando duramente os Bispos que pediram a divulgação do "Apelo" e insinuando que obedecem a interesses políticos. Quem escreve é o mesmo Dom Demétrio que, em 25 de agosto de 2005, numa reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, realizada no Salão Oeste do Palácio do Planalto, frente ao Presidente Lula da Silva, fez um pronunciamento em apoio ao Mandatário. Um mês antes, o Ministro da Casa Civil, José Dirceu, havia deixado o ministério e o Governo era abalado pelo Escândalo do Mensalão.
Quem obedece, pois, a fins eleitorais? Será que sua Excelência escreve estando totalmente isento da articulação operada pelo senhor Carvalho?
Um dia antes, um dos verdadeiros "pais" da Teologia da Libertação, o padre Joseph Comblin, escreveu uma Carta aberta a Dom Demétrio onde lhe pede para agir. E, sua Excelência agiu imediatamente. Comblin defende em suas obras uma Igreja sem Hierarquia.
Hoje também a Comissão Brasileira de Justiça e Paz, organismo que se diz vinculado à CNBB, publicou uma nota onde afirma que considera "lamentável" o texto da Regional Sul 1 "porque tem levado muitos católicos a se afastarem de nossas comunidades e paróquias, constrangem nossa consciência cidadã, como cristãos, atos, gestos e discursos que ferem a maturidade da democracia, desrespeitam o direito de livre decisão, confundindo os cristãos e comprometendo a comunhão eclesial".
Segundo O Estado de São Paulo, o secretário-executivo da entidade, Carlos Daniel Dell Santo Seidel declarou que "Dilma foi a única candidata que se declarou claramente a favor da vida. O José Serra não tem uma posição clara". O senhor Daniel Seidel, nesta função desde dezembro do ano passado, foi candidato a deputado federal pelo Distrito Federal em 2002 pelo PT. Quem, então, tem fins políticos e compromete a comunhão eclesial?
A Presidência da CNBB autorizou a nota da referida Comissão?
A nota já chegou a nós enviada via e-mail por leigos afinados ao pensamento da comissão afirmando que é a "posição oficial da CNBB".
É conhecida também a atitude da comunidade Canção Nova perante a homilia pronunciada em 5 de outubro passado pelo Padre José Augusto Souza Moreira, sacerdote incardinado na Diocese de Lorena, e membro do conselho diretivo da entidade e seu responsável pela formação sacerdotal.
Depois da transmissão da homilia, a comunidade Canção Nova emitiu dois comunicados, um de seu fundador, o Monsenhor Jonas Abib, e outro do senhor Wellington Silva Jardim, presidente da Fundação João Paulo II, mantenedora civil da comunidade. O senhor Silva, conhecido como "Eto", fez campanha em favor da candidatura do professor Gabriel Chalita, do Partido Socialista Brasileiro. Chalita faz aberta campanha pela senhora Rousseff e diz que ela "nunca" foi favorável ao aborto. O que é falso. A Folha de São Paulo já lhe questionou se tinha-lhe sido oferecido o Ministério de Educação. Ele desconversa e logo nega.
Hoje, por meio de representação direcionada ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a coligação liderada pelo PT solicitou direito de resposta contra a TV Canção Nova, no tempo de 15 minutos, em razão da homilia do Padre.
Emfim, não se defende aqui o candidato José Serra, que como Ministro da Saúde do governo de Fernando Henrique Cardoso deixou muito a desejar em matéria do direito à vida, e que já se declarou favorável à união civil entre pessoas do mesmo sexo equiparada ao matrimônio. Nossos Bispos não nos pediram para votar nele.
Trata-se do direito à justa liberdade de expressão. Nossos Bispos autores do "Apelo" e tantos que lhe seguiram não mentem, colocam fatos. Fatos e com clareza expõem a doutrina da Igreja.
Hoje o Cardeal Arcebispo de São Paulo, Dom Odilo Scherer, afirmou ser fundamental que "os candidatos expressem com clareza suas posições sobre o aborto para que o eleitor possa tomar uma decisão". Evidentemente, como o próprio Cardeal advertiu na entrevista, a avaliação perante o voto não se limita à questão do aborto. Há muitos outros aspectos, o desenvolvimento dos menos favorecidos, a luta contra a miséria, a liberdade de educação, entre outros. E um destes aspectos, muito importante, é se teremos ou não um governo que respeite as instituições.
O que nos espera: um governo autoritário, que mobilizará sua máquina para calar os que dele discordam?
Perante a "quebra de comunhão" induzida pelos que ajudam o senhor Carvalho, consideramos que nossos Bispos não podem se calar. Devem continuar a ensinar, tendo em consideração só a fidelidade a Cristo e Sua Igreja, devem continuar a nos anunciar o que a bela Esposa de Cristo ensina. Ela é nossa Mãe e Mestra.
Nossos prelados agora encontram-se diante de uma oportunidade de ouro para poder conseguir um compromisso formal e concreto dos dois candidatos e partidos (pois tentativas virão das bancadas no Legislativo) para que o próximo governo, ganhe quem ganhe, pelo menos, não agrida o direito à vida desde sua concepção e a constituição da família fundada no matrimônio entre um homem e uma mulher. É o mínimo do mínimo. E não se trata de uma agenda religiosa, mas de ordem natural.
Saibam Vossas Excelências que contam com a oração e o apoio filial de seus fiéis.
Os Editores.